As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 7. Daniela

Daniela é professora primária. É paciente, delicada. Trabalha como voluntária numa residência para idosos todos os sábados. Vai à missa pontualmente aos domingos, coordena o coral das crianças e ano que vem vai se casar com o Fábio, por quem é extremamente apaixonada há 3 anos.

Mas o que Daniela queria mesmo fazer é fabricar granadas. Grandes, pequenas. Potentes. E vê-las explodir grandiosamente na cabeça de cada homem que acredita que pode mexer com ela na rua quando ela anda sozinha. Todos os homens que fazem com que ela tenha que olhar por cima do ombro num lugar meio vazio ou escuro. Aqueles que fazem as adolescentes terem vergonha do próprio corpo. Os que acham bacaninha denominar as mulheres como seres de outras espécies em voz alta (gata, vaca, girafa, galinha, cachorra, hipopótamo…). Os idiotas que acham que não é sim, e que pra quem é normal um pouquinho de coação. Os que assoviam, mandam beijos, dizem gracinhas e fazem gestos asquerosos para completas desconhecidas enquanto suas filhas estão em casa fazendo a tarefa escolar.

Os imbecis que a fazem sentir que de alguma forma ela está em desvantagem só pelo fato de ter nascido com dois cromossomos x.

Sim, Daniela pensa que essa gente merece explodir. Ela quer fabricar essas bombas maravilhosas, usá-las e distribuí-las entre outras mulheres para que nunca mais nenhuma delas se sinta desprotegida, acuada como um felino do mato pedindo pela vida, na mira do caçador.

E não há nada de metafórico nisso, ela quer ver o sangue jorrar mesmo. Quer ver a mancha de sangue com pólvora no chão, os restos de miolos grudados nas paredes, entranhas retorcidas irreconhecíveis em algum outro canto. Deseja que a sua própria cara fosse banhada com o sangue deles para que ela pudesse sair por aí gritando como William Wallace, brandindo granadas diante de rostos atônitos. Ela gostaria muito de ser temida por esses homens – o respeito deles já não é suficiente para ela. Ela quer medo. Pavor.

Ela pensa na construção de uma prisão aonde essas criaturas desprezíveis fossem torturadas diariamente. Imagina-os sendo chicoteados enquanto várias pessoas ao redor gritam comentários jocosos a respeito dos seus pênis. E tantas outras formas de tortura.

Daniela apenas antecipa um problema à sua Guantánamo anti-machista vingadora: imersos numa cultura que semeia a desigualdade entre os gêneros com tanto carinho e apreço, como distinguir culpados e inocentes?

Ela não sabe. E está cansada.

Eu também. Nós todas estamos.

Por isso, ao que parece, Daniela pensou na melhor solução até agora: granadas.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 6.Rita

Hoje é sábado. Rita está na cozinha com sua neta de 7 anos, a Rafaela.

Há duas batedeiras sobre a mesa: a de Rita (uma relíquia dos anos 60, que ainda funciona e que ela nunca trocou por uma nova justamente por isso) a de Rafaela (um terço do tamanho da outra, cor-de-rosa, funciona a pilha).

Os ingredientes estão todos dispostos diante das duas – ovos, farinha, açúcar, leite, baunilha, erva-doce… Rita os distribui, cuidadosamente, em pequenos potinhos e os deixa ao lado de Rafaela. Ensina a neta a quebrar os ovos sem estragar a gema. A criança observa todos os movimentos da avó, cozinhar é a coisa mais legal do mundo.

Em sua batedeira, Rita vai colocando os ingredientes devagarzinho, quantidades medidas a olho enquanto conversa com a neta.

Rafaela escuta, acompanha a vó com os olhos e vai pondo os conteúdos dos potinhos dentro de sua própria batedeira. Inclusive a gema que a avó separou da clara especialmente numa cumbuquinha fácil para a Rafaela manusear.

Chega o momento mais aguardado pela menina: ligar o brinquedo novo. E ele funciona mesmo!

Massas batidas, bolos no forno (Rita colocou a massa da neta numa forminha de empada). Rafaela está encantada. É o primeiro bolo que ela faz sozinha. É uma das primeiras coisas que ela faz de forma independente (ou quase, mas que para ela é uma enorme conquista). Naquela forminha está o resultado da mistura que ela fez, na própria batedeira. É por essas e outras que a casa da avó é o melhor lugar que existe, e onde ela gostaria de estar o tempo todo. Lá ela pode perguntar, realizar, dizer, entrar e sair livremente. Lá não existe hora errada ou pergunta errada ou vontade errada; só há o certo e o errado, com exemplos vivos, reais.

Rafaela ainda não sabe, e não tem idade para entender, mas as lições da avó nesta manhã na cozinha vão muito além de proporções, receitas, texturas, cheiros… O aprendizado real está no que a avó não verbaliza ao explicar a ordem dos ingredientes, nas esperas entre um passo e outro da receita, na louça que ficou muito maior e no tempo descomunal gasto só pra fazer um pão de ló.

Rita, em sua docilidade de riso fácil, na mansidão que tem com a neta – e com mais ninguém – lhe ensina o valor da paciência com o tempo do outro. Da importância do carinho no fazer. Da imensurável beleza que existe na capacidade de desprender-se de si mesmo e, sem querer absolutamente nada em troca, doar o bem individual mais valioso hoje: o próprio tempo.

Rafaela aprende o que é amar. Essa doação tão generosa, aonde as duas partes se sentem tão bem.

Rita, por sua vez, também é inconsciente de tudo isso. Ela não pondera quantas coisas está deixando de fazer para cozinhar com a Rafaela. Não sabe que está permitindo que a neta se sinta autônoma e capaz desde criança, e no impacto destes momentos pelo resto da sua vida. Não pensa em que criança dá muito trabalho, nem que ocupa um tempo excessivo e que fala demais. Nem em se a Rafaela vai usar essa receita depois e perpetuar tradições culinárias da família, casar, ter filhos, ser médica/advogada/dentista/administradora de empresas/dona de casa. Rita não conhece o feminismo e nem o machismo.

Rita apenas pensa que Rafaela deve ser feliz. Talvez como ela mesma não tenha podido ser nessa mesma idade, pela época ou por tantas circunstâncias. E é por isso que amamos tanto a Rita. Por que gente como ela, quase não existe mais.

Se é que um dia existiu.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 5. Isabel

Quando Isabel tinha 24 anos, voltou das suas férias de verão na praia com uma manchinha de sol no rosto.

Sua mãe não a via, suas amigas diziam que não viam, nem seu o namorado via aquela porcaria de mancha, mas a Isabel sim. Aquela manchinha asquerosa bem ali, na cara dela, que é tão vaidosa. Um mês antes ela não existia, mas agora ela estava ali. Feia e desagradável, como uma visita indesejável que ela não tinha convidado.

Isabel não sabia o que fazer. Passou mais protetor solar, tentou uns cremes da sua mãe, foi à farmácia ver que produtos haviam para problemas como o seu. Nada. A mancha desafiando-a, rindo da cara dela.

Entrou em pânico… e se a mancha aumentasse com o tempo? E se ela tivesse envelhecimento precoce? Rugas antes dos 30? Câncer de pele? E se ela ficasse feia e virasse uma bruxa com verruga?

E como boa paranoica hipocondríaca, Isabel resolveu buscar ajuda profissional, e foi à dermatologista. Numa bem famosa, que era pra não ter erro.

A recepção era grande, clara, bonita e repleta de clientes muito finas, bem vestidas e blasés (talvez porque todas as enzimas que já tinham injetado no rosto não permitissem movimentos faciais).

Depois de um atraso de hora e meia do horário marcado, uma estagiária da tal doutora Aline, famosa por tratar a acne (e outros problemas menos graves) da mais alta estirpe da sociedade, recebeu Isabel em seu consultório e perguntou-lhe, antes de tudo quantos anos ela tinha.

Diante da resposta, a doutora-estagiária suspirou:

– Ah, meus 24 anos…

Isabel crispou os lábios, olhando a jovem estagiária. Ponderou por alguns instantes e, por fim, disse que ela não parecia ter muito mais que a sua idade (o que a Isabel apenas supôs porque ela já era médica e atendia num consultório famoso), ao que a moça então respondeu que era porque a dermatologia realmente funcionava. O que a Isabel, que ficou muito intrigada tentando imaginar a idade da doutora, não sabia era que a moça só tinha 28 anos.

Após algumas perguntas sobre produtos utilizados e alergias, por fim, chegou doutora Aline. Antes de perguntar qualquer coisa ou de olhar a ficha recém preenchida pela estagiária, a doutora deteve-se diante de Isabel por alguns instantes elogiando o contorno de suas sobrancelhas. Segundo ela, era o contorno de sobrancelha mais desejado pelas mulheres e que para conseguir um igual aquele era muito caro (ela disse o valor, e Isabel percebeu que correspondia a um terço do seu salário e sentiu-se até meio feliz de já ter nascido assim).

Em seguida, Isabel contou-lhe sobre seu infortúnio com a mancha. A doutora, sem mais, presumiu que ela tinha tomado caipirinha na praia e sem deixá-la responder (no verão a Isabel teme a proximidade com os limões mais que a própria morte) disse que essas manchas se tratam com ácido.

Além do ácido para a mancha, a doutora passou uma longa lista de produtos e pílulas que, de acordo com ela, eram fundamentais para que a Isabel conservasse sua pele de moça de 24 anos de idade por todo o sempre (com o auxílio de botox dentro de alguns anos).

Isabel levou a receita na farmácia para fazer um orçamento e levou um susto muito grande. Grande mesmo. Decidiu, então, encomendar só o ácido para a sua mancha – ainda que a ideia de ter 24 anos para sempre fosse muito, muito tentadora.

Quando o ácido chegou, Isabel ficou muito feliz. Olhou pra mancha, vitoriosa, aplicou o produto e foi dormir.

Na manhã seguinte, tragédia. Parecia que a mancha e toda a pele em volta dela, aonde o ácido tinha tocado, tinham sido picadas por escorpiões durante a noite. E depois por aranhas. E depois por formigas. Saúvas.

Desesperada, descobriu de uma tranquila doutora ao telefone que às vezes esse ácido dá alergia. E neste caso, não é bom usá-lo. Nunca mais. Antes de desligar, a doutora também perguntou se Isabel não queria aproveitar o mês da depilação a laser.

Isabel olhou para o seu reflexo. A manchinha gargalhava. Assumindo a derrota, jogou o ácido fora e cobriu a vermelhidão com um pouco de pó durante alguns dias até ela sumir por completo.

Quando Isabel tinha 27 anos, voltou da praia e ao se olhar no espelho, a mancha por alguma razão parecia mais feia, escura e horrorosa que nunca. Aquilo era inaceitável e não combinava com o bronzeado tão bonito que ela tinha conseguido em três semana de sol, passando protetor solar francês e comendo cenoura crua.

Decidiu que era o momento de tentar de novo, dessa vez a dermatologista ia ter algo para ajudá-la. A mancha sorriu com o cantinho da boca, como quem diz “Boa sorte” ironicamente.

A nova médica era muito falante e alegre. Porém, disse que sem o tal ácido ao qual a Isabel era alérgica, era muito difícil tratar esse tipo de mancha. Não contente, tocou a região abaixo dos olhos de Isabel com os polegares dizendo que achava que estava na hora de começar a aplicar enzimas ali, e emendou ‘Sabe como é, né? A cada velinha que a gente assopra…’. Ela até informou o preço do “tratamento”, e Isabel constatou que esse também custava um terço do seu salário (mas aos 27 ela ganhava o dobro do que ganhava aos 24; faça você as contas).

E a isso seguiu-se mais uma lista enorme de produtos caríssimos e pílulas a base de colágeno na esperança de salvar o que restava da juventude da paciente. E a doutora também perguntou se ela não tinha interesse em depilação a laser.

Isabel entrou numa espiral de pânico. Não sabia com qual problema se desesperar antes:

  1. Sua mancha era ‘incurável’. Derrotada outra vez.
  2. Enzimas? Assoprar velinhas? Agulhas no rosto? Hã?????
  3. Por que as pessoas não paravam de oferecer depilação a laser para ela?

Passou semanas assustada e se sobressaltava toda vez que olhava no espelho e via as olheiras de madrugar para ir ao trabalho. E se sentia mais velha a cada segundo que passava diante da própria imagem. Como se não bastasse, de repente ficar mais velha virou algo aterrador e ela ficou com medo de fazer aniversário dali a 11 meses.

Não injetou nada no seu rosto. Tentou comprar as pílulas, mas descobriu que elas dão enjoo e podem provocar úlceras. Por fim, jogou as pílulas e o telefone da médica fora.

Mas desde então, utiliza creme para a área dos olhos diariamente.

Isabel fez aniversário semana passada. Trinta anos. Na manhã em que começou a nova década, fazia sol. Caminhou até o espelho, respirou fundo e olhou bem.

A mancha ainda estava lá, mas devia estar dormindo aquele dia porque Isabel demorou um pouco para encontrá-la, e ela não deu risada dessa vez. Já tinha algum tempo em que a danada não provocava mais a Isabel.

As olheiras também estavam lá, porque a Isabel continua levantando cedo todos os dias.

Ela também encontrou umas linhas suaves por aquela região, que não teve muita certeza se já tinha visto antes ou não, ou quando surgiram, nem porquê…

E pareceu que podia ter um risquinho bem tênue no meio da testa, mas Isabel não teve muita certeza, podia ser só uma sombra.

Isabel não pensa em ir à dermatologista este ano. Ou no próximo. E nem o seguinte.

Mas não deixa de usar creme para a área dos olhos. Todos os dias.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 4. Maria Helena

Esta no assento bem à sua frente, ao lado da senhora de camisa azul que vai descer na próxima estação, é Maria Helena. A que está segurando a bolsa no colo com o olhar meio perdido. É, ela é mesmo muito bonita. Muito charmosa. Tem um estilo único, definitivamente.

E, sabe, ela não é só isso.

Ela é extremamente inteligente e muito divertida. Gente finíssima. Ela fala sobre todos os assuntos com todo o mundo, sempre com um sorriso no rosto, sem preconceitos.

Ela também lê romances e poesia direto do francês, mas não se gaba dessas coisas porque acha quem o faz meio patético. Meio não, super.

Ela adora arte, cinema e teatro, mas nunca vai ser pedante se você não souber quem é Klimt ou Kiarostami. Você pode aprender muito com ela, e nem vai se dar conta, vai achar divertidíssimo.

Ela gosta de comer bem, viajar e rir, rir muito. É uma bonne vivante acima de tudo. Disfrutar os lugares e momentos é com ela mesma. Faz piada o tempo todo e tem sempre uma pérola na ponta da língua. Vocês terão mil e uma piadas internas deliciosas. Ela pode ser carinhosa se você também for. E muito sexy, se ela achar que você merece. Ela tem habilidades e talentos que talvez você nunca descubra por puro desinteresse ou touperice sua.

Maria Helena, se quisesse, poderia alimentar-se de dois idiotas como grande parte dos homens que há por aí por dia. Ela não o faz porque, como aprendeu empiricamente, idiotas dão muito trabalho, demandam uma quantidade absurda de tempo e ela tem mais o que fazer: trabalhar, passear, ler, ver filmes, estar com a família e sair com as amigas. Entre outras atividades surpreendentes como aulas de tango ou de parapente.

Sim, eu sei. Ela é maravilhosa. E ainda por cima tem aquele sorrisinho irônico. Nossa…

Mas por favor, não mexa com ela, nem perturbe-a. Deixe-a em paz. Não queira conhecê-la melhor, bater um papo e ver o que rola. Não tente fazê-la gostar de você.

Por que? Porque você acha que quer a Maria Helena. Mas, na verdade, não quer.

Chegará um momento em que tudo o que você acha mais atraente nela hoje se transformará em pesadelo: sua inteligência, a vontade de viver intensamente, a independência, a autossuficiência. Neste momento, você perceberá a iminência do desinteresse de Maria Helena por você (ao contrário das coisas que ela gosta na vida, você é meio paradão e reclamão) e, assustado, tentará, sorrateiramente, colocá-la numa gaiola. Calá-la. Domá-la.

O único problema, meu caro, é que Maria Helena é uma força da natureza. E quando ela se der conta do seu movimento, quando tiver um vislumbre sequer, se voltará contra você com mais agressividade que um tsunami. Em breve só restarão os destroços – seus, dela e da relação.

Talvez você até consiga prendê-la por um tempo, usando uma chantagem emocional, porque ela, apesar de tudo, é sensível e não vai querer te tratar como um copo descartável ou um brinquedo velho. Ou seja, na reta final, você viverá sob a tortura da sua própria insegurança e ela sob a tortura do ciúme e do aborrecimento. Ou qualquer variação desta situação.

Maria Helena, então, se tornará a grande antagonista da sua vida. Ela não vai te amar como a sua mãe te ama – apesar das malcriações. Ela vai, invariavelmente, ficar nervosa e intratável quando você demonstrar o seu amor ficando com ciúmes e tentando impedi-la de viver, sendo bobo ou carente.

Porém, acima de tudo, sua falta de carinho, pequenos cuidados e delicadezas com ela irão sufocá-la, ao ponto de ela preferir ver novela de sexta-feira à noite a sair com você.

Você vai se machucar, e o tombo não vai ser pequeno. Mas o pior: você irá feri-la de morte. Porque na verdade, você nunca amou nem amará Maria Helena, mas sim a ideia de estar com uma mulher como ela. Pra você é uma questão de ego, de poder, vaidade, caça, ou do que seja. Pra ela, a possibilidade de, quem sabe, ser realmente amada, sendo como é – uma flor selvagem, um meio termo entre a virtude e a revolução (como, desde que conheceu Ian Hamilton Finlay, ela gosta de pensar em si mesma).

Obviamente ela vai se recuperar, lindamente, e virar uma versão ainda melhor de si mesma sem você. Mas o cinismo que traz um desamor será para sempre a marca indelével da sua passagem pela vida dela.

Por isso, repito, melhor deixar a Maria Helena em paz. Não atormente-a, não seduza-a com palavras vazias ou sentimentos egoístas. Deixe ela seguir viagem.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 3. Patrícia

Patrícia tem 36 anos. É advogada e mãe do Léo, que tem um ano e meio.

Atualmente, nos fins de semana, o que Patrícia mais gosta de fazer, do fundo do coração, é de ir para a casa que sua família tem na serra, acender a lareira, ler e comer chocolate – se possível por horas a fio – deitada no colo do Roberto enquanto ele assiste netflix e o Léo dorme, deixando os dois sossegados. Nessas horas, ela se arrepende de não ter dormido, lido e visto mais filmes a vida inteira antes do Léo nascer.

Ela trabalha há alguns anos num escritório, revisando contratos. Lá também trabalham outras sete mulheres, todas igualmente bem sucedidas, independentes, bonitas e bem criadas como a Patrícia.

Hoje é terça-feira, são 11 da manhã e Patrícia normalmente fica com fome a essa hora. Normal, ela tomou café às sete. Ela vai até a cozinha, prepara um café com leite, e passa alguns minutos molhando pedacinhos de bolacha Maria no café antes de comer. Chega Beatriz, que pega uma maçã na fruteira, e as duas começam a conversar sobre o seriado que ambas acompanham, compras, livros e amenidades e dão muitas risadas. Em seguida chegam Carina e Andréa.

Carina prepara um chá verde enquanto narra suas aventuras na academia, seu novo vício – quer dizer, hobby. Ela fala sobre o grau de dificuldade de todos os aparelhos e quantas calorias perde por segundo em cada um deles. Sim, por segundo. Abre o armário de bolachas. Tira de dentro as mesmas bolachas que Patrícia está comendo. As mesmas que estão lá todos os dias, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Ela tira uma fina bolachinha do pacote e dá uma mordida. Três segundos depois, diz:

– Vocês sabem que essa bolacha é péssima pro quadril, né? Eu nem deveria estar comendo, mas é só porque hoje vou fazer um treino especial. – justifica-se.

Beatriz se cala e Andréa endossa:

– Ai, nem sonho mais em comer trigo. Porque depois tenho que sofrer muito na academia.

Patrícia tem a nítida impressão de que já ouviu essa mesma conversa inúmeras vezes antes e, como sente que tem muito pouco, ou melhor, absolutamente nada, a contribuir com ela entra em modo standby (que é quando a pessoa assente com a cabeça periodicamente, mas está realmente em seu próprio universo paralelo).

Ela começa pensando no Léo, em como ele tem aprendido várias palavras novas realmente rápido. Pensa em como o Roberto estava lindo hoje de manhã com aquela camisa azul e sente vontade de mandar um whatsapp pra ele, só pra dizer. No almoço que marcou com seus pais no sábado e em como eles, em especial seu pai, ficam incrivelmente encantados em ver o Léo, porque ele é realmente o bebê mais lindo do mundo inteiro. Na roupa que eles esqueceram dentro da máquina hoje de manhã, em se fecharam todas as torneiras, apagaram as luzes… se trancou a porta, trouxe a chave, precisa passar no banco. Ai, não! A conta de água vence hoje, com certeza o Roberto não vai lembrar. Ela vai ter que cuidar disso na sua hora de almoço.

E depois desse lapso no tempo-espaço, ela começa a voltar à cozinha do escritório. Carina ainda fala sobre a própria bunda. Sobre como se preocupa e gostaria que ela fosse menor, e todos os exercícios que são bons para a conquista e manutenção de uma bunda pequena.

Patrícia chega à beira do desespero porque esse nível de demência é absolutamente intolerável numa terça-feira de manhã antes mesmo do almoço, e ainda por cima a seco, sem nem uma gota de vinho ou similares.

O que a incomoda sobremaneira não é o fato de que ela mesma, assim como a Beatriz que também escuta calada, têm muito mais quadril que a reclamante, e que logo, tudo o que a Carina está dizendo é extremamente indelicado, presunçoso e desagradável. Patrícia realmente já atingiu o nirvana em relação ao próprio corpo e nada, nem ninguém conseguiriam desestabilizar sua autoestima e convencê-la de que ela seria mais bonita de outro jeito. Nem com silicone, nem com as pernas mais finas, nem com o abdome riscado, nem com a bunda sem celulite daquela atriz que fez uma cena pelada. Mesmo depois de ter o Léo, e meu deus, como o corpo dela mudou depois disso.

O que realmente tira a Patrícia do seu eixo e traz os seus piores instintos assassinos à tona é constatar que uma mulher da sua idade, com os mesmos recursos intelectuais, sociais e culturais, cultive dentro do seu ser essa mentalidade tão pobre, machista e infeliz em relação à própria imagem – semelhante à que a Patrícia tinha aos 15 anos, quando revistas de moda e fofoca ainda eram referência de qualquer coisa na vida dela.

Patrícia pensa que mulheres assim não são uma afronta apenas ao feminismo, ou à sociedade, ou à biologia da espécie humana, mas ao próprio Charles Darwin. Porque as coisas não deveriam “involuir”, certo?

Então, sem forças para expressar o quanto aquilo tudo é tedioso e digno de vômito, levanta-se para voltar à sua mesa. Porém, antes de ir, com um sorrisinho, lembra-se de um fato importante sobre Darwin e sobre a vida: até aqueles monstrinhos/robozinhos japoneses de desenho animado evoluem e tornam-se mais fortes e capazes. Logo, ainda deve haver alguma esperança para mulheres como Carina e Andréa.

Assim esperamos, Patrícia.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 2. Eulália

Hoje Eulália comemora 60 anos.

São ainda oito da manhã e ela acabou de acordar com o telefonema da Rose, uma amiga querida de muitos anos, que por alguma razão sempre que liga acorda alguém na casa – desde a época em que os filhos da Eulália eram adolescentes e ainda moravam lá.

E durante o dia serão muitos telefonemas mais, porque Eulália é realmente muito querida.

Ela está muito feliz: adora fazer aniversário. Vai encher seu dia de pequenos mimos como estrear uma blusa nova, ir na manicure, passar na confeitaria e, mais tarde, seus pais, já bem velhinhos mas tão queridos, vêm comer uma pizza com ela. Eles e o resto da família também, porque fartura e família é o que nunca falta na casa da Eulália. A única que não vem é a filha dela, que é surfista profissional e mora na Austrália. Mas tudo bem também, porque elas já combinaram de fazer um Skype bem na hora da festa pra ficar aquele auê e ninguém conseguir ouvir nada. Porém, tudo muito gostoso, com muito carinho, porque cada cantinho da casa da Eulália é agradável e aconchegante.

Aconchego na casa, conforto na vida. Ela não sabe o que é um sapato desconfortável há mais de dez anos. Nem se for só pra ir naquele casamento. De jeito nenhum, sem chance. Ela tem o cabelo todo cacheadinho e nunca quis alisar. Nem nos anos noventa, quando os três fios de cabelo que a Kate Moss tem na cabeça eram a coisa mais linda do mundo (?????). Não, o que ela gosta é de lavar e deixar secar ao vento, bem rebelde, bem enrolado, bem natural, bem à vontade. Cuidar da beleza pra ela é necessariamente algo confortável – ela deu muita risada quando a dermatologista sugeriu botox. Nem pensar, nada de agulhas, nem bisturis, nem pesos, muito menos privações alimentares.

Mas ela não vive sem suas aulas de pilates, aonde ela se espreguiça como um gato e demonstra uma suave descoordenação motora, e seu pote de lancôme antes de dormir.

Eulália não pensa muito sobre a sua idade como fazem as moças bem mais novas que ela, entrando em pânico ao chegar nos quarenta ou mesmo nos trinta. Ela não tem vergonha de absolutamente nada no seu corpo, nem no seu rosto. Nem das escolhas que faz na vida. Não toma outras mulheres – muito menos celebridades – como referência de beleza, ou de qualquer outra coisa. Porque isso simplesmente não faz nenhum (nenhum!) sentido. Ela passa inerte pelas páginas de revista de beleza e fofoca, de onde só extrai algumas dicas de decoração, viagens… E às vezes dá uma olhada no horóscopo porque é tão engraçadinho.

Também A-DO-RA as novas tecnologias. Tem o melhor smartphone de toda a família e posta nas redes sociais fotos que depois nem ela mesma lembra que postou, e que nunca consegue remover (para pânico dos filhos e “tagueados” envolvidos). E se tiver uma postagem de um dos seus filhos, Eulália está lá, dando o primeiro “curtir”, e se bobear comentando também, com dizeres nada constrangedores tais como “lindinho da mamãe” ou “minha flor de maracujá”. Ela também já colocou alguns (vários) vírus (letais) no computador da casa, perdeu arquivos importantes e deletou pastas de fotos inteiras.

E suas faxinas, então? Ah, as faxinas são famosas! Internacionalmente conhecidas por, magicamente, transportar coisas a universos paralelos, porque a Eulália nunca (nunquinha da silva) perde nada. As pessoas é que são muito desorganizadas e os objetos, obviamente, dotados de poderes paranormais. E quando ela troca o nome das coisas e fala tudo errado, na verdade é você que não está entendendo a piada, porque é tudo de caso pensado.

Mas também, gente, mesmo se não fosse, convenhamos… como ela mesma diz: é tanta coisa na cabeça dela!

A gente entende Eulália. E perdoa. Você é demais, mesmo.

As crônicas verdadeiras sobre as notáveis mulheres normais 1. ANA PAULA

Ana Paula nunca brincou de casinha.

E ninguém jamais disse pra ela não brincar; na verdade, as pessoas ao redor dela provavelmente nem notaram que “dona de casinha” não era parte do repertório de personagens dela. Mas ela podia se transformar a qualquer momento em enfermeira, secretária, professora, modelo de passarela, cantora, lutadora de karatê, pirata em caça ao tesouro, cabelereira, na própria mãe e até na She Ra.

Mas brincar de casinha… não fazia o menor sentido pra ela.

Quando brincava com suas panelinhas e colhia os matinhos e frutas do quintal da sua avó, era porque naquele dia ela era cozinheira de um restaurante, de um banquete da realeza ou, melhor ainda, havia dias em que ela podia ser uma ajudante de cozinha de primeira da vovó e mexer na comida de verdade.

Com as bonecas era um troca-troca de roupas sem fim porque a Barbie era realmente muito ocupada e tinha mil compromissos no mesmo dia já que trabalhava na televisão ou num escritório/hospital muito importante. Coitada, tinha dias em que ela só via o Ken à noite.

Ana fica muito intrigada quando as moças da sua idade (vinte e muitos) lhe descrevem sua vida sempre em torno de uma casa, de um homem, do desejo, ou melhor, da obsessão, em ter um bebê ou em torno dos três – o que é mais frequente.

Ela escuta aquelas histórias intermináveis sobre a preparação do jantar da terça-feira, aprende sobre todos os gostos do marido alheio, temores (pavores) sobre como é mais difícil engravidar depois dos trinta e técnicas de organização de armários. E ela escuta tudo isso, não por masoquismo, nem por mera educação. Não, Ana Paula é uma otimista. Ela tem esperança de que um dia estas narrativas tão, mas tão enfadonhas, atinjam o seu clímax. Ela aguarda ansiosamente o dia em que haverá uma reviravolta durante o jantar e ao invés de falar sobre o macramê dos porta-guardanapos, as moças terminem fazendo-a chorar de rir com uma receita tão mal sucedida que fez o prédio inteiro vomitar só com o cheiro, sobre como colocaram fogo na cozinha, beberam tanto vinho que acabaram comprando passagens pra Letônia ou fizeram sexo no sofá com a janela aberta. Relatos que permitissem à Ana deduzir que esses maridos são, na verdade, companheiraços, e que esses apartamentos recém decorados são lares cheios de alegria com o amor desses casais. E que o casamento é uma coisa legal pra caramba, apesar dos problemas.

Mas esse dia nunca chegou. São sempre largas Odisseias sobre governança doméstica cujos personagens coadjuvantes são centros de mesa, sousplats, pátina, badejos…

Os ferozes peixeiros do mal.

Os ferozes marceneiros do mal.

Ana Paula sente um desconfortável amargor na boca quando pensa nas mulheres da sua geração.

Sobre flores y mujeres

Escribo en español porque para hablar de flores y de mujeres toca ser latino. Porque suena bien, porque es perfecto para expresar el tema a lo que vengo, porque me gusta. Porque hay que ser pasional y un poco dramático.

Las mujeres y las flores. ¿Cliché? Seguramente. Una de las más antiguas y desgastadas analogías utilizadas por poetas buenos y malos, por la cultura popular, por toda la iconografía humana. Sin embargo, sigue funcionando.

Como las flores, venimos en todos los tamaños, formas y colores. Todas, de alguna forma, nacemos con una especie de disposición natural para la belleza. Algunas son suaves como el terciopelo, otras vienen con espinos difíciles de domar. Algunas alegran el ambiente, otras son demasiado complejas y sofisticadas para el gusto común. Etc, etc, etc…

Sin embargo, lo que me interesa realmente tratar en este texto es el marchitar. El suyo – las flores – y el nuestro. Pero no el marchitar cronológico de la vida que es la viejez. Porque este no solo es natural y bonito, pero un privilegio que muchos no llegan a alcanzar. Y muchas veces, para la mujer, envejecer llega a ser un acto de valentía ante un mundo donde apenas el hombre ha ganado el derecho de arrugarse. Hablo aquí de otro fenómeno.

¿Alguna vez os ha ocurrido encontrase con alguna prima no cercana, una amiga que vive lejos o ex colega de la uni (todas jóvenes todavía) y pensar “¡Por dios, qué mal le han tratado los años!”?  Este es precisamente el marchitar a que me refiero. El envejecer antes de la viejez. La muerte de la belleza, de la gracia y de la chispa femeninas durante el auge de la juventud.

Hay, ciertamente, muchas razones que pueden llevar a este marchitar precoz. Una vida dura de privaciones, por ejemplo. El trabajo en demasía y el sueño en escasez. Pero a mi ver, pocas cosas destruyen la hermosura y la gracia de una mujer como una mala relación.

Pongamos por caso una dalia feliz en el jardín botánico de Madrid. Ella está allí en su cantero, hermosa, con todos los nutrientes de que necesita, exuberante, luciendo sus colores casi salvajes. Imagina que cortemos esta dalia y la dejemos tendida en el suelo en un día veinte de agosto. En Madrid, reitero. ¿Qué le va a pasar?

Dentro de pocas horas sofocará. Tras un día entero se volverá irreconocible, deformada, un fantasma de si misma. Lo mismo le pasará a una mujer involucrada con una persona que (aunque inconscientemente) le hace mal. Que no le dispense los cuidados y cariño que ella requiere. Que no respete sus objetivos, necesidades y voluntades. Alguien que exija el control a todo momento. Y principalmente, que demande más de lo que está dispuesto a dar.

Lo más impresionante es que, aunque hoy día dispongamos de mucho más libertad que en otros tiempos, lo seguimos haciendo. Sometiéndonos a relaciones fallidas y muchas veces persistiendo en ellas en la esperanza de que nos hagan felices. O peor, viviendo la ilusión de que nos hacen felices, cuando en realidad nos sorben nuestra energía vital.

Me asustan mucho los efectos. La piel se vuelve pálida, grasa, gris. El pelo, una espiga disforme. Los ojos sin brillo, cansados. El cuerpo, demasiado hinchado o el opuesto total. Esa mujer nunca encuentra tiempo (y frecuentemente dinero) para hacer, comprar y estudiar lo que quiere. ¿Viajar? Olvídate, es muy caro. Nunca encuentra huecos en su agenda para ver a la gente que le quiere (incluso su propia familia). Y lo más sorprendente es que culpan a todo: el trabajo, el gobierno, la luna en Júpiter – pero JAMÁS a la relación que le mantiene cautiva en un régimen casi dictatorial, llena de reglas y carente de pasión.

Como la dalia madrileña, una no hace bien en alejarse de quien realmente es, de su eje, de su verdadero propósito existencial. De su cantero. Y yo pienso que todas nosotras tenemos plenas condiciones de divisar y evaluar lo que nos hace mal para, entonces, eliminarlo sin remordimientos de nuestra vida. Solo hay que ser fuerte para aceptar que amar no es sufrir. Yo digo que dejemos de enterrarnos en vida porque tenemos una ilusión Disney de que toda bestia se volverá príncipe azul si le damos nuestro amor sincero.

No. No va a pasar. Más bien tú dejarás de ser princesa/reina y te volverás bestia igual que él.

Si os sirve de consuelo, para las dalias, una vez mutiladas, no hay vuelta. Para nosotras, felizmente sí.

Success

The other day, I was reading an article in a magazine about the so called “successful women”. They were awarding them according to their contributions to society. It called my attention that the winners had four characteristics in common: wealthy, thin, married, entrepreneurs. And then, it occurred to me that the magazine people must have had a very narrow group of individuals to pick the winners from. It seemed like the only plausible explanation. Out of all the incredible women out there, who are certainly doing amazing things, only trophy wives, rich, star college graduated, liposuctioned women made the cut. Weird, to say the least. Because success goes way beyond this socially desired veneer. Even if it doesn’t get you to the pages of a posh editorial publication.

Successful women are brave.

So brave indeed, they’ll put on some lycra and go to the gym, fully aware of the fact they’ll never be skinny and that cellulitis won’t leave them if the Queen herself demands it to. They will embrace their bodies, buy a bikini set and wear it in public despite some people in Vogue magazine would say they are insane to do so.

Successful women have friends, not frenemies. That’s because they are generous, candid and kind enough so as to keep them. They are nothing less than exultant when their loved ones thrive. Really, honestly, sincerely happy. Leave competiveness for the Olympics.

Successful women often laugh and make others laugh because having company in laughter makes it more fun. It prevents precocious aging more than your usual Clinique, Vichy or La Roche Posay night cream as well.

Successful women don’t have to pretend their job is more interesting and important than others’, just to impress. They do what they do. It doesn’t matter if it’s not the newest fashionable job.

Successful women don’t have to overwork to feel competent. They understand competence is to excel in whatever it is that you do, and that being a doormat to your boss/company/office is not entailed in it.

Successful women don’t lie about their age. They are not afraid of ageing even if they’re still not married, have children and/or a million dollars in the bank. They don’t need anybody’s pity, nor do they need to show material proof of their happiness to anybody.

Successful women never forget where they come from. Mother, father, siblings, grandparents, the whole lot. These will always define her more than jobs, degrees, lifestyles or brands.

Successful women don’t feel the need to carry a man around town like it’s the new Birkin just because everybody else expects them to be in a relationship in order to be a fulfilled human being and a productive member of society. Sometimes it’s actually more useful to carry a real Birkin. Or a Kate Spade.

Successful women say “I’m sorry”, “Please” and “Thank you”. Because they wouldn’t be successful at all if they didn’t.

Successful women aren’t exasperated to have babies, but instead, some of them long become mothers (and, yes, there is a great difference). Moreover, they aren’t raising their children to be little emperors and empresses; on the contrary, what they seek is to bring up respectful, tolerant and happy people. People who can inhabit this planet’s reality and not the Isle of Neverfrustratedland.

Successful women regret. Sometimes they cry. They take the wrong turn along the way. They change their minds. They apologise. And they know it’s in fact very healthy. It means they feel, they care, they won’t let pride take over and that there’s a great deal of humanity within their hearts. Feeling like a respectable human being in the end of the day is, at times, the utmost evidence of success.

However, if you read some magazine or saw some TV show, film or soap opera which claimed otherwise, that a woman’s success derives from any other items than the ones listed above, I can only say: It’s plain bullshit.

 

 

About fireworks.

Falling in love with a totally random person is easy. Sometimes all it takes is a word or a gesture and you’re hooked. Consequently, falling out of love is also as easy – only a word or a gesture stand in the way of love becoming loathing.

The steps or phases are more or less the same for everybody:

  • the dazzling phase (it feels like you’re on a cloud);
  • the enchantment phase (aren’t I lucky to have him/her?);
  • the “doubting your choices” phase (is love supposed to feel this way?);
  • the eternal boredom phase (you know the relationship is going nowhere, communication is dull and you’re trying to find a way out of it. It feels like you’re stuck forever);
  • and finally, the breakup (normally achieved when you’ve lost all patience and respect for your peer).

Fireworks, on the other hand, are a whole different deal. Because, to begin with, it doesn’t come from what the other person does, but from what he/she is. It strikes you like lightening and you won’t even understand why or how. Sometimes it only takes a look or the sound of his voice to know that this person will (often unwarily) play a protagonist role in your life. It’s a strong, unexpected feeling that comes from within and makes time expand when you’re together. Like in the movies. Like in that beautiful “Big Fish” scene.  It transcends reality.

Some people are so lucky as to find this person and to actually be with them. Some will never feel anything of the sort. Some will find it in their best friend, like the adorable Francis Ha. Some will find it and give up before trying anything, because everybody is so scared of feelings these days. You see, fireworks are indeed wonderful but they don’t respect timing or geography, and that’s where the problem begins. When it hits you, it won´t matter if you live eleven thousand kilometres apart, if one of you is joining the salvation army, engaged, going to a humanitarian mission in Africa or on your way to become a member of clergy. And you may try as much as you want to push it out of you, but when you do so much as to receive a facebook message from that person – after months or years – all your efforts will have been in vain. Your heart will pound faster, you won’t be able to keep from smiling.  

Have I seen fireworks? Yes, obviously. Only once. I don’t think it will happen a second time. How did it turn out? Well, it’s enough to say we’re not together. Never have been together. Don’t know if we’ll ever be.

I don’t even know if we can be. But surprisingly, I am not capable of feeling angry about it. Not a bit. Because the thing when you see fireworks is that it comes with an enormous feeling of happiness which leaves little room for possessiveness. It has nothing to do with owning people or wanting to be the centre of their existence, nor with the need to be loved and desired. There’s no lust in it. It’s different from all the romantic stuff you’ve felt before. It’s more about looking at this person with such care, love and tenderness that you couldn’t bare the thought of them being unhappy. Let alone you being the cause for their unhappiness. You just want them to find their path in life and walk it along with them. Even if it means you can’t be together as a couple, if it means supporting choices you don’t fully understand, watching from the distance and cheering. Even if it means you have to help them escape the Nazis in a plane from Casablanca with another person while you helplessly say: “Here’s looking at you, kid”.

That kind of stuff.

And you’ll be sincerely happy if they’re safe and sound, despite the fact your own heart hurts a little bit and all you can hope for your future is the regular, ordinary falling in love stunt with someone who doesn’t turn out to make you sick to your stomach in the end. Maybe you can marry, have children and a happy life just from the “regular” falling in love. Why not?

I do hope you get to see the real fireworks, though. Even if you catch just a glimpse… it’s life changing.